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Os 20 anos do Grupo Pela Vidda – Out/2011


O “ENCONTRO NACIONAL DE CELEBRAÇÃO DOS 20 ANOS DO GRUPO PELA VIDDA/RJ” CELEBROU A FUNDAÇÃO DO GRUPO RECEBENDO ATIVISTAS DE TODO O PAÍS PARA DEBATES SOBRE DIREITOS E DEVERES DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS NO BRASIL, E AFIRMOU A CONSTANTE NECESSIDADE DE LUTA E AFIRMAÇÃO DO MOVIMENTO

Outubro/2011

Sylvia Dietrich

 

Cumprindo com a promessa de ser um espaço de diálogo entre pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA), profissionais de saúde, previdência, seguridade e assistência social de todo o país, o “Encontro Nacional de Celebração dos 20 anos do GPV/RJ” - realizado de 09 a 11 de outubro – foi palco de debates sobre as principais conquistas e avanços obtidos durante os últimos 20 anos de luta contra a epidemia de HIV/Aids, no Brasil, assim como sobre as principais dificuldades ainda enfrentadas pelas PVHA junto, principalmente, aos setores de saúde pública.

Além das formas de cooperação técnica em informação, educação e comunicação em HIV/Aids – sendo destacado o serviço do Disque-Aids oferecido pelos GPVs -, o tratamento oferecido atualmente no SUS para aqueles que buscam pela primeira vez o atendimento (logo após se terem descoberto soropositivos) ou que utilizam este serviço há meses ou anos; a participação de jovens, mulheres, travestis e transexuais soropositivos nos movimentos de luta e a visão destes públicos sobre as formas de promoção da saúde, de prevenção, tratamento e enfrentamento desta epidemia foram alguns dos temas propostos pelos organizadores e debatidos entre os participantes, que vieram de diversos estados do Brasil – como SP, MG, ES, BA, PE, RG, RS e AM, por exemplo.

Gratos pela organização e realização do Encontro – visto como uma rica oportunidade de convivência e troca de informações -, os participantes, além de debaterem tais temas, apresentaram as realidades sociais de suas regiões e conheceram um pouco mais da história destes 20 anos de Grupo Pela Vidda/RJ, na luta por integração, dignidade, direitos e promoção da qualidade de vida de quem convive com a doença, no Brasil – a qual foi lembrada por antigos integrantes e voluntários do Grupo, que também estiveram presentes.

No primeiro dia, durante a Tribuna Livre “Advocacy e Redes de cooperação técnica em HIV e Aids, os principais pontos levantados baseavam-se em carências antigas dos PVHA. A necessidade de investimentos em vacinas; de criação de novos anti-retrovirais; de pesquisas específicas sobre a Aids e mulheres; de ampliação do número de profissionais tanto clínicos quanto infectologistas capacitados e treinados nos postos de saúde públicos; de monitoramento das políticas públicas, e de reprodução assistida foram alguns destes pontos.

Simultaneamente, na Oficina de Trabalho “Prevenção e Planos de enfrentamento do HIV e Aids – Travestis e Transexuais na Luta, coordenada por Giselle Meirelles, do Grupo Transrevolução, a estigmatização de travestis e transexuais foi muito discutida entre as presentes, que fizeram relatos emocionados sobre os diversos momentos de discriminação já sofridos. A necessidade do permanente serviço de acolhimento, promoção, conscientização e fortalecimento da auto-estima das travestis e transexuais em grupos e associações exclusivas, como o Grupo Transrevolução – criado no GPV/RJ – foi, entre todas, enfaticamente acordada. Da mesma forma, a propagação da informação sobre direitos e deveres de cada um(a), as formas de prevenção contra DSTs e o tratamento médico e psicológico necessários e mais adequados foram abordados.

No fim do dia, a Abertura do Encontro foi presenciada por membros do Grupo, entre diretoria, voluntários e integrantes – de hoje e de ontem -, além dos demais participantes. Diversos depoimentos que resgataram a história da Aids no Brasil, junto à história do GPV/RJ, bem como os princípios e valores que propiciaram e ainda mantêm viva a luta contra essa epidemia foram realizados. A Carta de Princípios dos Grupos Pela Vidda foi lida e a necessidade de campanhas publicitárias de esclarecimento sobre formas de prevenção e de diagnóstico precoce, assim como a carência de uma melhor assistência médica hospitalar do SUS foram novamente destacados.

Para Márcio Villard, presidente do GPV/RJ, “este espaço de debate é muito importante, pois assim podemos nos energizar, nos conhecer, trocar novas informações sobre cada cidade, cada pessoa. Afinal, devemos estar sempre atentos e vigilantes para sabermos como devemos e podemos agir amanhã”. Mário Scheffer – o primeiro integrante do Movimento de Luta contra a Aids a ser representante no Conselho Nacional de Saúde e hoje presidente do GPV/SP, além de editor da publicação “Cadernos Pela Vidda” -, concorda com Villard e acrescenta que, para ele, o que mantém vivo e unido o Movimento Nacional de Luta contra a Aids é o saudosismo, a celebração pelas conquistas e avanços já adquiridos e a vontade de serem vistos bons resultados técnicos e científicos deste movimento, apesar dos inúmeros obstáculos a serem constantemente enfrentados pelas PVHA.

Veriano Terto - também ativista e fundador do GPV/RJ e atualmente um dos coordenadores da ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids) -, também participou da abertura e lembrou a época de fundação do GPV/RJ. “Há 20 anos, os soropositivos eram considerados ‘mortos civis’ por eles mesmos e pela sociedade. Por isso, começamos a nos organizar e estruturar o GPV/RJ, que nunca foi só um espaço de atendimento, convivência e de formação de ativistas, mas também de apoio na formação de profissionais”. Ele também acredita que este não é só um momento de celebração, mas também de renovação e reafirmação de princípios. “Acredito que estes eventos são essenciais para que o movimento seja mantido e fortalecido. A luta continua e contamos com a nova geração que tem começado a participar”, continua.

Já a Dra. Márcia Rachid – uma das primeiras médicas infectologistas do RJ a atender pacientes com Aids no inicio dos anos 80, também fundadora do GPV/RJ, e hoje integrante da equipe de Assessoria do Programa Estadual de DST do RJ, consultora do CREMERJ/RJ e do Departamento Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde para as questões de HIV e Aids -, também recordou a época de fundação do Grupo, em meio a todas as dificuldades e angústias daqueles que se descobriam portadores donovo vírus. Ela destacou as mudanças no tratamento da doença, afirmando que a Aids hoje se encontra em sua terceira fase e que, por isso, precisa ser tratada de outra forma pelos especialistas e pacientes – ou seja: ainda mais eficaz e rigorosamente. Apesar disso, Rachid enfatizou também os avanços já obtidos nas formas de tratamento, com novos remédios anti-retrovirais, vendo nestes avanços, motivos para comemoração.

No segundo dia do Encontro, várias salas temáticas foram realizadas, com enfoques específicos. Na sala sobre Qual a assistência que temos? Qual a que queremos? Qual a que deveríamos ter no SUS?, o que o cidadão comum entende por assistência e o que o serviço atualmente oferece aos seus usuários foram as principais questões debatidas entre os participantes, que lamentaram a atual desvalorização e desqualificação do sistema de saúde público, sem previsão de melhoria.

Além disso, observações e propostas para um melhor serviço do SUS foram apresentadas. Algumas delas são: a capacitação e humanização de profissionais de saúde para que possam lidar, especificamente, com o acolhimento e tratamento desta doença; o atendimento e tratamento oferecidos pelo SUS ser eficiente e comum em todas as unidades, nas quais deve haver também um espaço para informações e divulgações (sobre saúde e cidadania) aos usuários; a melhoria no acesso a este atendimento e a medicamentos – independente de possíveis relações pessoais com funcionários, o que, segundo estes participantes, acaba por determinar este acesso -, e o conhecimento da legislação, competências e responsabilidades (o que é previsto na lei e o que é cumprido? O que o controle social deve exigir e a quem? O que é de responsabilidade do Governo Federal, Estadual e Municipal?) pelas PVHA e usuários deste serviço.

Na sala sobre Juventude e Ativismo em HIV e Aids, os jovens discutiram os objetivos da Rede Nacional de Jovens Positivos de apoiar, fomentar ações e capacitar e treinar jovens vivendo e convivendo com HIV/Aids no Brasil, para o efetivo envolvimento e ativismo destes no movimento contra esta epidemia, ocupando espaços sociais importantes e estimulando as Redes Locais/Regionais de movimento – as quais, segundo eles, ainda sofrem dificuldades na captação de novos membros. O que é um fator negativo e que deve ser rapidamente ultrapassado, pois, acreditam, o êxito da Rede Nacional depende destas articulações locais já existentes e/ou a serem criadas, com o apoio e estímulo dos movimentos mais antigos.

Estes jovens também parabenizaram a realização do Encontro, afirmando ser um momento de construção do ativismo jovem e não de “lazer” e “conforto”. Esteve também em pauta o projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE) – política pública do Ministério da Educação e Cultura ainda em fase de implementação nos estados brasileiros – que, observam, deve ser implementado e negociado com cada região a nível estadual e municipal, para sua plena e total execução; apesar de estar sofrendo muita resistência de políticos, diretores, coordenadores, professores e pais, que muitas vezes impedem que assuntos ligados a sexualidade e diversidade sexual sejam tratados nestes espaços educacionais.

Micaela Cyrino – ativista de 20 anos da Rede Nacional de Jovens e Adolescentes Vivendo e Convivendo com HIV/Aids e representante da Região Sudeste por estar realizando um importante trabalho de mobilização social com jovens em São Paulo (SP) – faz diversas observações. Para ela, a visão e participação dos jovens neste movimento e as suas reais necessidades sociais precisam ser melhor compreendidas e respeitadas. Além disso, ela igualmente defende que deve haver uma revolução na produção e transmissão das informações sobre promoção e prevenção para eles – o que, afirma, provocaria um maior estímulo à pró-atividade destes ativistas. Afinal, avalia, as atuais e tradicionais formas de comunicação com este público não têm surtido efeito, precisando, portanto, ser mais criativas, modificadas e melhor direcionadas. “Muitos jovens ainda estão se infectando. Sabemos que é preciso uma maior observação e compreensão de suas vidas. Por isso, um bom trabalho desenvolvido com crianças e adolescentes faz com que eles mudem a visão sobre os adultos que convivem com eles, se tornando os verdadeiros vetores da transformação social quando bem informados e capacitados”.

Na sala sobre “Prevenção e Promoção da Saúde – Novas abordagens e tecnologias no controle do HIV e Aids, a necessidade de promoção da saúde e de parceria entre as organizações não-governamentais de luta contra a epidemia de HIV/Aids e empresas midiáticas – resultando na produção de campanhas publicitárias institucionais contínuas sobre prevenção e tratamento -, assim como a parceria com organizações voltadas ao público LGBT; a dificuldade de acesso a insumos, e a visível vulgarização da Aids na sociedade foram as questões mais abordadas.

No domingo, último dia do encontro, todas as questões debatidas e propostas sugeridas foram apresentadas. Os participantes presentes (principalmente ativistas e voluntários do GPV/RJ), então, concluíram que muitos e importantes avanços e conquistas (sobretudo referentes a novos e mais eficientes medicamentos), durante estes 20 anos de luta, foram adquiridos, porém, através de muita dedicação e cobrança daqueles que atuam constantemente neste movimento. O que mais uma vez ratificou a importância da união de todos da sociedade civil – entre PVHA, seus amigos e familiares, e profissionais de saúde, direito e seguridade social, por exemplo – em favor da eficaz e estável promoção da saúde, formação de redes sociais, ações de advocacy e conquista e garantia de direitos de cidadania a todos.

O espaço dedicado à discussão de questões específicas de cada segmento – jovens, mulheres, travestis e transexuais soropositivos, por exemplo – também foi muito elogiado pelos participantes durante os três dias de evento. Assim como toda a história do GPV/RJ, relatada através de depoimentos emocionados daqueles que há anos conhecem e atuam no Grupo e vêem no GPV/RJ um consolidado local de referência social para o convívio, aumento, resgate e promoção da auto-estima de PVHA, sem nenhum tipo de discriminação.

Acesse também a programação do Encontro!

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